Por Maria dos Reis.
Ouço o barulho do vento em sintonia com a natureza e percebo a alegria dos animais silvestres pulando de galho em galho. Vejo essa cena da janela do meu quarto, com vista para o meu quintal, diariamente. De repente, ao olhar para as árvores, observo uma iguana comendo tuturubá e outra descendo para se alimentar dos frutos caídos no chão. O cantar dos pássaros, que assoviam ao meu ouvido ao acordar, aumenta as batidas do meu coração, enchendo-me de felicidade ao contemplar esses seres vivendo sem medo da destruição de seu lar natural.
O som da palmeira do buriti é o mais forte; ele se evidencia até mesmo com os pingos da chuva ao caírem em suas copas. E, nessa mistura de sons, com o vento que balança, vejo a dança dos galhos que se entrelaçam, sem discriminar sua importância. O vento balança o caju, a manga, a tangerina, a seriguela, a juçara, o limão, o coco verde, a lima doce, a macaxeira e o mamão, que servem para o sustento de minha família.
Esse mesmo vento também se entrelaça nos galhos ao balançar o pequi, o bacuri, a mangaba, o cupuaçu, o murici, o jatobá, a massaranduba e a cagaita, que dão sustentação ao homem do campo, aos quilombolas, às quebradeiras de coco babaçu e ao povo ribeirinho que delas precisam. Esses povos — juntamente com os indígenas e os lavradores — carecem de incentivo para continuarem em seus habitats naturais, cultivando suas terras para viverem livres dos ataques dos homens sanguinários da floresta, que, em nome do desenvolvimento desenfreado, tentam desmatar a natureza que Deus nos deixou para zelar, cuidar e proteger.
Eu não sou ativista ambiental, mas sou filha de camponeses que, um dia, colheram os frutos do cerrado para me alimentar. Estou aqui para pedir que cessem a violência no campo, que as autoridades competentes desempenhem o seu verdadeiro papel ao praticar a justiça social igualitária para todos. Que apressem a legalização das terras para seus legítimos proprietários, porque quem nunca passou fome não sabe dizer da dor de quem já foi dormir com um chá de folha de laranja e farinha de puba. Esse alimento foi consumido na cidade devido ao êxodo rural, sofrido por várias famílias que não encontraram apoio no campo.
Se secarem essa fonte natural de alimento, aquecida pelo barulho do trator derrubando as árvores, plantarão atalhos que ceifarão vidas humanas, animais e a fauna...
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